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Bal poussière ("Baile de Poeira"), um filme ivoiriense de Henri Duparc
critique
rédigé par Luísa Fresta
publié le 29/07/2014
Luísa Fresta (Africiné)
Luísa Fresta (Africiné)
Henri Duparc, roteirista e diretor de Bal poussière (Baile de Poeira)
Henri Duparc, roteirista e diretor de Bal poussière (Baile de Poeira)
Binta (Hanny Tchelley)
Binta (Hanny Tchelley)
Bal poussière (Baile de Poeira)
Bal poussière (Baile de Poeira)
Bal poussière
Bal poussière
Bal poussière
Bal poussière
Bal poussière
Bal poussière
Bal poussière
Bal poussière
Bal poussière
Bal poussière
Cartaz DVD
Cartaz DVD
Africiné, Le Leader Mondial (Cinémas africains & Diaspora)
Africiné, Le Leader Mondial (Cinémas africains & Diaspora)

Trata-se de uma comédia verdadeiramente hilariante e descomplexada sobre o tema da poligamia e o choque entre o mundo rural e urbano, entre tradição e modernidade; Henri Duparc atinge aqui em pleno os seus objectivos: levar as pessoas a amar a Côte d'Ivoire e toda a África, conquistar o interesse de um público estrangeiro e mostrar-lhe outra forma de viver.

Bal Poussière from Africiné www.africine.org on Vimeo.

O título (Bal Poussière) deve-se a uma recordação da infância do próprio autor: na sua terra natal organizavam-se bailes num terreno de laterite, que era varrido, e no decurso da festa a poeira vermelha transformava-se num manto de tal forma denso que o baile tinha que ser interrompido até que a poeira assentasse!
Nesta visão propositadamente caricatural o espectador é convidado a rir abertamente mas também a reflectir sobre hábitos instituídos, a mutação das sociedades e a autocriticar-se. Henri Duparc, o realizador, sempre demonstrou uma enorme sensibilidade e uma clara preocupação com a condição feminina em África e soube usar o humor, arejado, genial e no tom certo, como um meio de despertar consciências e fomentar o diálogo sobre temas que, longe de serem consensuais, suscitam divergências e debates acalorados. No caso de poligamia descrito nesta comédia, profunda na abordagem e na intenção, Duparc usa a sua lucidez para expor sem julgar testemunhos de quem a vive na primeira pessoa: o próprio homem ou as suas várias co-esposas.

Bal poussière (extrait 1) from Africiné www.africine.org on Vimeo.



Nesta movimentada ficção, a generalidade dos actores está perfeitamente à-vontade nos diálogos construídos com humor e irreverência e revela uma fresca naturalidade no difícil registo da comédia. De salientar, sem reservas, a magnífica prestação de Bakary Bamba no papel do protagonista.
"Semi-Deus" é um abastado proprietário rural que conta já com cinco esposas mas pretende casar-se com uma sexta, para harmonizar os dias da semana! A eleita é uma jovem estudante acabada de chegar da grande cidade, Abidjan, que o deixa obcecado pela sua juventude e beleza.
Este caricato personagem fará de tudo para conquistá-la e usará todos os trunfos de que dispõe: a sua riqueza, a sua inegável capacidade de persuasão e a sua influência na terra, onde é, de facto, um Semi-Deus, pois, logo depois de Deus, é a maior autoridade reconhecida pelos seus conterrâneos! Primeiro sonda o pai de Binta, a jovem pretendida, afogando-o em presentes, pressionando-o subtilmente: "Uma cola branca será um sim e uma cola vermelha será um não" - e assim ficam definidos os termos em que será comunicada a sua resposta. Este mostra-se inicialmente céptico, como convém (embora a hipótese de se converter num notável e melhorar drasticamente o seu estatuto lhe pareça bem mais apelativa do que dar ouvidos aos pruridos da sua filha!). O argumento que lhe ocorre para convencer a jovem é assustador, mas pincelado de um fino humor: "Todos os homens são iguais, só a fortuna os distingue!". Os pais de Binta, curiosamente, vivem um pacífico casamento monógamo. Por falta de posses do marido, mais dado ao despesismo e à indolência do que ao trabalho? Por escolha de ambos? Fica no ar a dúvida, sublinhada com jocosidade: terá o pai de Binta encontrado uma mulher que reúna em si todas as qualidades?

bal poussière (extrait 2) from Africiné www.africine.org on Vimeo.



Semi-Deus, pelo contrário, parece ter optado pela poligamia porque cada uma das suas esposas é única nas suas qualidades e funções, tanto na vida familiar como nos negócios. Cada uma destas mulheres foi objecto de escolhas, do marido e dos seus próprios pais, ficando a impressão de que elas próprias tiveram muito pouco a dizer sobre o assunto. Rivalizam constantemente pela atenção do fazendeiro, não hesitando em usar artifícios para o tornar sexualmente mais activo, sendo gentis e sedutoras, tratando-o com deferência e devoção. E ele? Retribui-lhes com pequenas oferendas e consagrando-lhes um quinto da sua atenção, consultando-as ocasionalmente em reuniões nas quais a sua palavra é a primeira e a única a ser cumprida. Estas afáveis co-esposas deixam entrever laços de afecto entre si mas também de enorme rivalidade, em função da preferência demonstrada pelo marido comum. Há um momento desconcertante em que Semi-Deus conversa com a primeira esposa sobre a filha, cortejada por um homem da terra; este afirma-se indignado pelo facto de o pretendente ter já duas esposas! E sublinha: "A pobreza nunca foi fonte de felicidade", ao que esta responde, com tristeza: "A poligamia também não"; e acrescenta que o teria certamente abandonado se tivesse uma profissão e não se encontrasse na sua dependência.

bal poussière (extrait 3) from Africiné www.africine.org on Vimeo.



A chegada de uma sexta esposa vai revolucionar todo esse universo tranquilo em que apenas uma voz se faz ouvir e respeitar. Binta desafia as regras, recusando submeter-se sem questionar: mesmo antes do casamento, diz ao seu futuro marido que gostaria de continuar a estudar, o que o deixa perplexo: "Mas tu já sabes ler e escrever!". E solta em seguida outra das suas magníficas deixas: "A instrução serve para encontrar trabalho, mas não faz falta para ter dinheiro".
Esta acaba no entanto por fazer valer as suas escolhas, partindo para Abidjan com o homem que escolheu para si, um jovem músico com quem mantinha uma relação antes de ser forçada a casar-se. Semi-Deus, o incorrigível galã, não perde tempo a chorá-la e rapidamente se deixa conquistar pela frescura de outra jovem da terra…

Luísa Fresta

Agradecimentos: Expresso o meu reconhecimento à Srª Henriette Duparc, que me proporcionou o acesso a documentação relevante, nomeadamente entrevistas concedidas pelo realizador acerca desta obra.

Publicado inicialmente no Jornal Cultura (Jornal Angolano de Artes e Letras) - edição LIX- 23/06/14

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